segunda-feira, 24 de setembro de 2012

COLUNA DESENHO DA PALAVRA - GRITOS EM GRAFFITI

Sussurros dos subúrbios: GRITOS EM GRAFFITI
    (ou sobre empoderamento e apropriação).

Há cerca de uma mês nossa cidade se tornou uma galeria a céu aberto. As telas são os contêineres coletores de resíduos urbanos. Trata-se de uma iniciativa conjunta promovida pela Prefeitura de Santa Maria, através da Secretaria de Cultura e do Grupo Arte Pública. A Associação dos Artistas Plásticos de Santa Maria, a Secretaria de Município de Proteção Ambiental, a Revita e uma loja de tintas também participam do projeto. De acordo com o que vem sendo divulgado o projeto pretende chamar atenção para áreas publicas através da arte, além de contribuir para a conservação dos contêineres.
Embora haja, recentemente, esforços para diferenciar - um tanto que artificialmente – pichação de grafite, conceitualmente ambos não se distinguem. Do ponto de vista legal incluem qualquer inscrição em superfície do espaço público, são considerados vandalismo e seus autores estão sujeitos a multa e prisão.
Teorias e opiniões à parte, pichação e grafite também não se diferenciam por sua origem. Nascem das culturas periféricas como forma de expressão e mobilização e transfiguram-se em arte. Enquanto cultura reforçam modos de ser de coletividades, como arte é criação individual. Uns poucos iniciados em mistérios, treinados na habilidade de criar e dispostos na agilidade de inventar são capazes de descortinar, aos nossos olhos apreciadores, a eterna novidade do mundo. A maioria de nós somos espectadores, fadados a olhar e nem sempre ver.
Quando os sussurros dos subúrbios se tornam gritos em grafite nos muros e fachadas de nossa cidade arte, cultura e ideologia chegam até nós. Pois é uma parte da coletividade forjando um meio de ser ouvida. E quando cedemos espaços ( limitados e previamente determinados) para essas vozes que bradam? É o centro, que se opõe ao periférico, se apropriando de uma estética do outro?
Olhe em volta, ouça os muros, postes, contêineres...
A cidade é convergente e marginal, foco e dissonância e por ser plural precisa ecoar todas as vozes.
A Colaboradora
  

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