quarta-feira, 10 de outubro de 2012

LUXO NÃO É QUESTÃO DE DESIGN


A primeira vez que reparei nesta grade na AVENIDA PRESIDENTE VARGAS, foi nos primeiros dias da primavera e somente notei porque ela estava completamente florida com rosas que variavam de uma tonalidade que ia de rosa clarinho ao branco. As rosas se entrelaçavam na grade e deixavam aquele trechinho da rua muito agradável. Um luxo para os olhos de quem passava.
Olhando com mais atenção pude perceber  que  a medida que a planta vai crescendo, alguém deve ir entrelaçando os galhos na grade, deixando um trabalho interessante e notável , sobretudo,quando a roseira está florida porque a impressão que temos ao olhar é de que as rosas foram cuidadosamente arrumadas na parede verde que se forma na grade.
Entrelaçados daquela forma ,os espinhos da roseira melhoraram a função segregadora da grade que ao mesmo tempo as folhas e flores a tornaram mais bonita e mais agradavel para quem vê.
Entendi perfeitamente, o que significa dizer que luxo não é questão de design e imediatamente me lembrei de um texto que havia lido alguns dias atrás e que já foi tema de uma palestra para designers.

Compartilho abaixo as fotos e o texto e aviso que é um texto que vale mesmo a pena parar pra ler e refletir!








O Luxo
Texto do livro: Das coisas nascem coisas, Bruno Munari

O luxo é a manifestação da riqueza que quer impressionar o que permaneceu pobre. É a manifestação da importância que se dá à exterioridade e revela a falta de interesse por tudo o que seja elevação cultural. É o triunfo da aparência sobre a substância.
O luxo é uma necessidade para muitas pessoas que querem ter um sentimento de domínio sobre os outros. Mas os outros se forem pessoas civilizadas sabem que o luxo é fingimento, se forem ignorantes admirarão e até talvez invejem os que vivem no luxo. Mas a quem interessa a admiração dos ignorantes? Aos estúpidos, talvez. O luxo é, de fato, uma manifestação de estupidez. Por exemplo, para que servem as torneiras de ouro se delas sai uma água contaminada? Não será mais inteligente pôr um filtro de água e ter torneiras normais? O luxo é, pois, o uso errado de materiais dispendiosos sem melhoria das funções. É portanto, uma estupidez.
Naturalmente, o luxo está ligado à arrogância e ao domínio sobre os outros. Está ligado a um falso sentido de autoridade. Antigamente, a autoridade era o feiticeiro,que tinha ornamentos e objetos que somente ele podia ter. O rei e os poderosos usavam caríssimos tecidos e pelias. Quanto mais o povo se mantinha na ignorância,tanto mais a autoridade se mostrava coberta de riquezas.
E ainda hoje, em muitos países, observam-se essas manifestações de aparências miraculosas. Atualmente, porém entre as pessoas sãs, procura-se o conhecimento da realidade das coisas e não a aparência. O modelo já não é o luxo e a riqueza já não é tanto o ter quanto o ser (para citar Erich Fromm). À medida que diminui o analfabetismo, cai a autoridade aparente e, em lugar da autoridade imposta,surge a autoridade reconhecida. No passado, um cretino sentado num enorme trono podia, talvez, impressionar,mas hoje, e , sobretudo amanhã, espera-seque não seja mais assim. Desaparecerão os tronos e as poltronas de luxo para os dirigentes impostos, os móveis especiais para os chefes, as grandes cadeiras luxuosas colocadas em estrados de mogno, os ornamentos, as hierarquias e tudo o que servia para impressionar. Em suma, quero dizer que o luxo não é uma questão de design. “

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